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domingo, 21 de julho de 2013

Homem suspeito de romper fio com linha de pipa é preso

Suspeito de ter rompido o cabo de alta tensão que eletrocutou um menino de 7 anos, Sílvio Teixeira da Silva, 20 anos, foi preso em flagrante na madrugada de ontem. Ele foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Bauru e responderá por tentativa de homicídio com dolo eventual.
Na tarde de anteontem, Sílvio soltava pipa na quadra 13 da rua Pedro Fernandes, na Vila Ipiranga, em Bauru, quando a linha teria enroscado da rede de alta tensão, rompendo um cabo de alumínio que conduzia aproximadamente 6,9 mil volts de energia. Curioso, Cauã Henrique Mello Camargo, 7 anos, tocou o fio com a mão e recebeu a descarga elétrica, que o deixou em estado grave (leia mais abaixo).
Sílvio não possuía antecedentes criminais e esta foi a primeira vez que seu nome foi incluído em um boletim policial. Segundo o delegado plantonista Roberto Cabral Medeiros, a decisão por prendê-lo e tipificar o crime como tentativa de homicídio foi tomada devido à gravidade da ocorrência.
“Ele tem mais de 18 anos e assumiu o risco de provocar aquele acidente quando soltou pipa com material cortante na linha. Ele sabia o que estava fazendo”, aponta. Ainda de acordo com o delegado, o depoimento prestado por Elisângela dos Santos Barbosa, 32 anos, vizinha que teria presenciado toda a ação, também foi decisivo para que Sílvio permanecesse preso.
“Ela disse que viu quando o rapaz tentava arrancar a linha da fiação elétrica e pediu várias vezes para que ele parasse, porque havia muitas crianças na rua. Mesmo assim, ele continuou a puxar, até que o fio arrebentou”, revela.
À reportagem, Sílvio chegou a afirmar que a linha da pipa sequer havia tocado o fio de alta tensão. Em depoimento registrado posteriormente em boletim de ocorrência, no entanto, ele mudou sua versão, dizendo que havia “tomado um relo” (quando a pipa é cortada por outro pipeiro) e que o brinquedo teria enroscado na fiação, que se rompeu quando ele tentou resgatá-lo.

Linha chilena
Conforme o JC apurou, o cabo, feito em alumínio, só poderia ter sido rompido por uma linha de pipa que estivesse com cortante, mas o acusado nega ter usado o material. A informação é de que ele possa ter usado linha chilena, composta de óxido de alumínio e quartzo moído, que possui poder de corte quatro vezes maior do que o cerol.
Um carretel com linha de pipa, aparentemente sem nenhum componente adicionado, foi entregue por Sílvio à polícia e será analisado pela perícia. Segundo depoimento dele à polícia, ele não teria presenciado o acidente envolvendo Cauã.
A informação foi corroborada pela mãe de criação que morava com o acusado, Edna Leme da Silva, 47 anos. “Ele já tinha entrado em casa, porque a vizinha saiu na rua e começou a discutir, dizendo que tinha sido ele que tinha derrubado o fio. Mas não foi ele. Ele estava sentado na calçada, quando o fio caiu sozinho”, sustenta a mulher, retomando a primeira versão apresentada por Sílvio à imprensa.
A vizinha Elisângela, assim como Edna, afirmou à polícia que ambas que nunca tiveram desentendimentos anteriores, o que poderia motivar uma eventual acusação infundada. “Me mudei para o bairro em fevereiro, mal conhecia as pessoas. Não sei por qual motivo ela está acusando o Sílvio”, frisa Edna..
Quioshi Goto
Cauã, 7 anos, recebeu descarga elétrica ao tocar no fio e permanece em estado grave

Advogado pedirá soltura

O advogado de defesa de Sílvio Teixeira da Silva, William Roger Neme, informou que irá pedir na Justiça a liberdade provisória de seu cliente com base no argumento de que o depoimento apresentado pela principal testemunha do caso, Elisângela dos Santos Barbosa, apresenta contradições. “Não há nenhuma prova que demonstre que o Sílvio seja responsável pelo acidente. Há apenas uma testemunha e as informações prestadas por ela são muito controvertidas”, resume, sem explicar quais seriam os pontos divergentes.



Criança ainda corre risco de morte
Segundo informações prestadas pela equipe médica do Hospital Estadual (HE), Cauã Henrique Mello Camargo, 7 anos, ainda corre risco de morte. Seu estado é considerado grave e ele segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica da Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) do HE.

Segundo o JC apurou, há ainda a possibilidade de o menino perder o movimento de uma das mãos ou até mesmo de ter o membro amputado. Pai de Cauã, Rafael Pereira de Camargo, 30 anos, contou ao JC que o filho está sedado para não sofrer com as dores das queimaduras de até terceiro grau.
Os médicos teriam dito à família que será necessário aguardar até amanhã à noite para avaliar a extensão das lesões em órgãos internos e as chances de o garoto ficar com sequelas. “Vamos esperar esses três dias para ver como ele vai evoluir, mas ainda há risco de morte. O estado dele é grave, mas, se nenhum órgão interno tiver sido afetado, as chances de recuperação são boas”, comenta Rafael.
Questionado sobre a prisão do principal suspeito de ter rompido o cabo de energia elétrica que provocou o acidente, Rafael preferiu não se manifestar. “O que a gente quer é ver o Cauã com saúde e ter ele de volta em casa. Por enquanto, não vamos e nem temos condições de pensar em culpados”, resume.
O garoto estava com a mãe, Ana Paula Correia de Mello Camargo, 28 anos, quando tocou o cabo rompido suspenso no ar, a poucos centímetros de altura da calçada. Segundo Rafael, a mulher, que não teve tempo de impedir o filho, está em estado de choque. “Eles estavam indo juntos ao mercado. Estavam a duas quadras de casa”, lamenta. Cauã é o filho mais velho do casal, que tem ainda uma criança de 3 anos de idade.

Mais de 60 acidentes com pipa
Segundo a CPFL Paulista, somente no primeiro semestre deste ano, já foram registradas 66 ocorrências envolvendo pipas na rede de energia elétrica, em Bauru.
Ao todo, 20.373 consumidores foram prejudicados com interrupções de energia.
O ano passado inteiro somou 226 ocorrências, que geraram desabastecimento para 114.466 consumidores.

Como soltar pipas com segurança
• Pipas devem ser empinadas longe de rede elétrica e, de preferência, em espaços abertos como praças, parques e campos de futebol
• A utilização de “rabiolas” deve ser evitada, pois elas se prendem aos fios elétricos, desligando o sistema e provocando choques
• Utilizar papel alumínio na confecção da pipa é perigoso, pois este material, em contato com os fios, provoca curtos-circuitos
• Linhas metálicas não devem ser usadas no lugar da linha comum, pois podem provocar choques elétricos
• Caso a pipa enrosque nos fios, é melhor desistir do brinquedo. Subir em telhados ou postes para recuperá-las representa risco de choque, assim como tentar removê-las com canos ou bambus
• Não é indicado soltar pipas na chuva. Ela funciona como para-raios, conduzindo energia.
• É necessário ter cuidado com ciclistas e motociclistas. Acidentes acontecem porque as linhas não podem ser vistas
• O uso do cerol ou da linha chilena é proibido por lei e pode matar
Fonte: CPFL Paulista
A criança agarrou o fio que conduzia aproximadamente 6,9 mil volts de energia

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