Numa casinha de fundos do terreno, no bairro caiense de São Martim, uma pequena família buscava a sua felicidade. A mãe, Cleonice Ribeiro dos Santos, tinha 24 anos e era separada do seu antigo companheiro, pai das duas crianças que morreram com ela num trágico incêndio ocorrido por volta de duas e meia da madrugada, na última segunda-feira.
Separada há mais de três anos do companheiro José Machado, Cleonice lutava para conseguir o sustento da família, contando para isso com o apoio de seus pais e irmãos, que também moram no bairro. Ela, junto com a família, trabalhava na venda de frutas. Um trabalho de venda casa a casa na grande Porto Alegre e outras regiões do estado, que é muito comum entre os moradores do bairro.
Os filhos de Cleonice morreram com ela no banheiro da casa, onde se refugiaram quando se acordaram com a casa já em chamas. O banheiro era a única parte da casa construida em alvenaria, enquanto o resto da casa era de madeira.
Provavelmente, o banheiro foi o único caminho que Cleonice e as crianças encontraram, livre das chamas, mas essa peça, sem janela que permitisse a fuga, acabou sendo uma armadilha.
O incêndio foi tão forte que atingiu também a casa da frente, no mesmo terreno e também de madeira e ambas foram completamente destruídas.
Os bombeiros vieram rápido, mas nada mais podiam fazer pelas duas casas e seus ocupantes. Apagaram o fogo usando a água dos dois caminhões de que dispõem, molharam as casas vizinhas, garantindo que o incêndio não se espalhasse mais ainda.
Na casa da frente, morava o aposentado Arcemiro Carvalho da Silva, o popular Tiririca, de 51 anos. Ele ainda conseguiu escapar do incêndio, mas, na sua casa, a destruição também foi total. Tanto uma como a outra eram prédios muito humildes, situados ao lado do mercado da esquina, que faz frente ao posto de saúde do bairro.
Os corpos, totalmente carbonizados, foram retirados do local na madrugada do mesmo dia, para serem submetidos a perícia.
A causa mais provável do incêndio é a má conservação da fiação elétrica, que deve haver causado um curto circuito. As casas pertenciam a um dos irmãos de Cleonice chamado Emerson Ribeiro.
Cleonice mudou-se para aquela casa há apenas uma semana e não houve tempo de melhorar as condições do prédio. O que poderia ter feito, pois contava com o apoio da família.
Nascida no município gaúcho de Nonoai, ela estudou na escola David Canabarro, do bairro São Martim, trabalhou na fábrica Oderich, do Caí, antes de começar a trabalhar com os irmãos na venda de frutas. Segundo sua única irmã (ela tinha mais três irmãos), Cleonice era um guerreira.
Seus filhos, que com ela morreram, eram a menina Giovana e o menino Wesley. Ela, com nove anos, é estudante da escola David Canabarro, e ele, de sete anos, estudava na APAE, sendo levado diariamente até a escola (no Caí) por uma van Topic.
As duas crianças eram muito graciosas. Wesley era extremamente comunicativo e brincalhão. Os corpos carbonizados das vítimas mostram que, na hora da morte, a mãe envolvia seus filhos com os braços, tentando protegê-los do fogo.
Fonte: Fato Novo 07/10
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